15.2.08

Jornalismo e a nova economia

Hoje (quinta, pois ainda não dormi!) no início da noite foi montada uma mesa com jornalistas e blogueiros pra discutir o tema Jornalismo e a nova economia. A organização da mesa propôs perguntas que contrapunham os hábitos tradicionais da imprensa com as novas ferramentas de comunicação, principalmente a blogosfera.

Realmente não pretendo dizer quem falou o que. Vou apenas pinçar algumas idéias que foram tratadas nessa mesa. Um senhor de certa idade, jornalista de carreira, disse que estamos vivendo a era da convergência. Que da tela do computador a pessoa pode acessar jornais, tvs, revistas, rádios. Acha que esse fenômeno da comunicação está causando um empobrecimento da linguagem e coloca em risco a qualidade da informaçao devido a falta de seletividade de quem escreve. Sou totalmente contra essa fala. Primeiro que o que considero mais importante dessa era não é o fato de se acessar tudo através de um mesmo aparelho, mas sim que esse aparelho permite uma interatividade virtualmente ilimitada. Permite que outras vozes ecoem, sejam lidas, debatidas e até, ignoradas. Depois, quanto à questão do empobrecimento da linguagem, acho que mudar é próprio da língua. A norma culta não é falada por ninguém, pois até os escritores mais eruditos ignoram algumas regras ainda obrigatórias da gramática portuguesa (como a mesóclise por exemplo) e, além disso, cabe lembrar que tanto o português quanto o brasileiro, só existem porque o latin foi sofrendo alterações causadas pelo uso, ou, como querem alguns, "empobrecendo" com o tempo.

Uma jornalista da Abril, também presente na mesa, considera que o que está ocorrendo é uma alteração do canal, ou seja, do meio pelo qual o jornalista se relaciona com o seu público. De novo aparece a idéia de que sempre existirão os detentores da informação de um lado e aqueles que necessitam dela do outro. Discordo. Acho que não estamos diante somente de uma alteração dos canais de comunicação, mas sim da multiplicação dos fluxos, considerando que a informação não é privilégio de uma pessoa ou grupo mas que está na mão (e na cabeça) de todo mundo (Sou mesmo um eterno otimista!).

Outro jornalista presente na mesa, entende que as redações são muito importantes para o jornalismo investigativo, que ocorre quando o reporter fica dedicado meses (ou até anos) numa matéria, sem ter condição de publicar nada de novo. Nesse raciocínio, os blogs não teriam condições de bancar essa empreitada pois sua prerrogativa é justamente a da publicação constante. Dessa forma, uma blogosfera forte seria aquela que se dedica a reunir as informações que estão por aí, percebendo coisas novas antes mesmo dos grandes veículos. Cita como exemplo o escândalo dos cartões de crédito, cujos dados estavam disponíveis no portal da transparência mas que só foram descobertos por jornalistas. Numa previsão pessimista, ele entende que a "festa da internet" vai acabar. Isso significa que as grandes empresas de mídia, que muitas vezes possuem negócios na área de telecomunicações (isso quando não fazem parte do mesmo grupo), tomarão medidas para dificultar o acesso aos blogs que, naturalmente, possuem custo de produção muito inferior ao dos grandes portais. Essas medidas consistirão em cobrar taxas exageradas na utilização da estrutura de comunicação necessária para dar acesso veloz aos seus leitores, de forma que somente grandes empresas poderiam bancar, revertendo os números de audiência em favor delas.

O contraponto colocado pelos blogueiros presentes à mesa foi muito interessante. Houve quem falasse que o jornalista não sabe gerar conteúdo que as redes sociais pedem pois são formados para a mídia escrita (jornal) e rádio/tv convencionas. Ainda nessa linha, falou-se que mesmo os jornalistas que trabalham nas mídias digitais, em sua maioria, ainda pensam com "cabeça de papel". Deu pra perceber também uma certa divisão entre os blogueiros. De um lado estariam aqueles que acham que o jornalismo está morto e que o futuro da informação é mesmo transitar pela blogosfera e pelas redes sociais. Do outro lado estão aqueles que acham que o jornalismo convencional sempre terá sua importância no jornalismo investigativo e na produção de material com um certo requisito de qualidade. Eu tendo mais pro lado do primeiro grupo, acho que uma rede de pessoas tem grande capacidade de investigar se estiverem conectadas através da tecnologia da internet e de uma certa filosofia. E quanto à qualidade, acredito no princípio da educação de qualidade que deve dar às pessoas acesso às mais variadas culturas e o senso crítico para optar. Daí viria o processo da seleção natural: aquilo que não agradar tenderá a ser ignorado.

Para terminar esse longo (espero que nem tão enfadonho) texto relato um momento engraçado do debate, quando uma jornalista deixou escapar que os professores têm tido problemas em receber dos alunos trabalhos realizados com base na Wikipédia e não numa "enciclopédia de verdade". Recebeu um belo coro de vaias e teve que se explicar melhor. Bom, ninguém é obrigado a saber tudo. Para isso brindo vcs com um link de uma pesquisa realizada pela revista Nature que encontrou a mesma quantidade de erros na Wiki e na Britânica.

2 comentários:

Leonardo de Oliveira Martins disse...

Ótimo resumo!
Quanto à questão dos blogs versus jornais, acho que tem espaço prá todos, com as devidas definicões de "bloguismo" e jornalismo. Prá mim, blog é a plataforma e jornalismo é o "ritual" - assim cabe um jornalista blogando e um blogueiro com um furo de reportagem. Ambos vão evoluir, e um exemplo são as "últimas notícias" que os jornais oferecem em rss (prá mim isso é blog, dado que a editoração é mínima).
Concordo plenamente que a blogosfera se encarrega de selecionar os melhores, mas há alguns pontos que me preocupam:
- ficarmos presos a apenas alguns blogs, nunca tendo tempo ou interesse em ler os contra-pontos ( os blogs que nos criticam, por exemplo). Não atualmente, mas quando tivermos alguns milhões de blogueiros, não só seleção mas deriva também pode atuar...
- duplicação de informação ou posts pouco informativos (do tipo "leiam esse post"). Isso é questão de gosto, admito;
- a falta de infra-estrutura a blogueiros (ir até os locais prá fazer entrevistas, a autoridade para filmar policiais violentos sem levar borrachada, etc).
- alguns posts podem ter implicações legais (se eu denuncio alguém e esse alguém me processa, e.g.), e a legislação é bem fraca nesse aspecto: historicamente a culpa cai no host (youtube no caso da mina transando na praia, orkut no caso do bispo da IURD).
Uma estrutura jurídica (sindicato ou associação) pode dar um safeguard nos dois últimos casos. Nos dois primeiros, eu imagino algo como agregadores de blogs, que do ponto de vista do usuário seriam iguais a jornais convencionais (em tela), mas que organizam, reformatam e sintetizam os blogs.
Eu posso ter predido o fio da meada... mas enfim, esses são meus "dois centavos".

RicardoPoppi disse...

Leo, valeu pelos dois centavos, embora eu ainda não esteja usando "Add Sense"...ahahahahahhaa. E ai, me manda um email! Cê tá onde?